ORAZIO DE ATTELLIS

Por Elysius

Politica Romana 5/1998-1999

Orazio de Attellis

O Mestre Giuliano kremmerz, no sexto de seus Os Diálogos sobre o Hermetismo, referindo-se ao Mestre hermético Setteali, escreveu que “Setteali, um hermetista muito conhecido do início do século XIX, no dia 5 de maio de 1821 estava em Capri à beira mar, junto com poucos discípulos seus. Um deles indicou ao mestre um grupo de nuvens que abria-se em círculo no qual, em uma mancha azul, nuvenzinhas brancas desenhavam uma águia. Setteali disse: uma águia voou para o céu, Napoleão morreu. A natureza tinha feito como o telégrafo sem fio e a inteligência humana tinha explicado a sua mensagem”. Setteali é o anagrama de Orazio de Attellis, marquês de Sant’Angelo, certamente uma das figuras mais aventureiras e menos conhecidas de nosso Risorgimentosagrado. Nasce em 22 de outubro de 1774, em Sant’AngeloLimosani, feudo de sua ilustre família delSannio, na província de Campobasso, filho de Francesco de Attellis e de Dorotea D’Auria. “Dentre os documentos se encontra um retrato de DeAttellis, fotografado em uniforme militar. Fronte ampla e alta, cabelos voltados para trás, olhos escuros e profundos, nariz aquilino, bigode profusamente inclinado sobre o lábio, De Attellis tinha uma fisionomia verdadeiramente interessante, marcada pela altivez e pelo requinte”.Pouco amado e asperamente tratado por seu pai, um bizarro literato convicto apoiador dos Bourbons, estranho aos vínculos domésticos a ponto de exercitar ante seu filho a mais despótica tirania, De Attellis foi educado primeiro no colégio de Somaschi, depois naquele para nobres de Nápoles. De caráter irrequieto e rebelde à toda disciplina, aos quinze anos, desejoso de ação, interrompe os estudos e segue o irmão mais velho na Espanha, onde militou como cadete primeiro no regimento “Toledo” e após no regimento “Nápoles”, e com este último foi enviado a Ceuta para combater com os marroquinos. Aos 18 anos retornou a Nápoles e se alistou voluntariamente no regimento “Rei. Por vontade do pai, iniciou a prática forense junto ao advogado molisano Leonardo Palomba. Foi na casa deste orgulhoso republicano onde “muitos doutos e amigos entusiastas” se reuniam para discutir a revolução francesa, as condições do Reino anecessidade de uma radical revolução que deu início à paixão política de DeAttellis. Litígios com o pai e atos de insubordinação o induziram a abandonar Nápoles. Esteve em Roma, depois em Livorno e finalmente se refugiou em Florença, onde foi acolhido pela melhor sociedade. Um conhecido advogado florentino o introduziu nos círculos vizinhos à Maçonaria e no jovem jacobino amadureceu a decisão de se tornar maçom. Em três dias sucessivos recebeu os graus de “aprendiz”, “companheiro” e “mestre” da maçonaria escocesa. De retorno à pátria se alistou no regimento de cavalaria “Nápoles”, que em 1796 foi enviado para flanquear os austríacos na Lombardia. Os eventos da guerra, os frequentes contatos que teve com os soldados franceses marcaram a plena adesão de DeAttellis ao jacobinismo. Em seu OttimestrecostituzionaledelledueSicilie autenticamente documentado da servireallastoriadiquelregno, é o próprio De Attellis que traça a origem da carbonária napolitana e explica como derivou da maçonaria do rito escocês. Em 1810 os maçons do rito escocês, em substituição à abolida sociedade dos Fondeurs, fundaram as do Carbonários, uma forma de maçonaria com somente dois graus. A carbonária napolitana é, então, filha da maçonaria escocesa e com essa manteve relações estreitíssimas. Foram os maçons escoceses que se colocaram na direção da carbonária, fazendo com que toda “venda carbonária” fosse regida por um maçom de provada confiança e colocando todo centro carbonário em correspondência com uma loja-mãe escocesa. As lojas escocesas se difundiram na Itália meridional e com elas as vendas carbonárias dedicadas a lutar contra o regime napoleônico contrário a um regime constitucional. Por esse motivo foram perseguidas pela maçonaria oficial filo-francesa. O desentendimento se tornou insanável quando, por instigação de emissários ingleses, o escocismo meridional se colocou em correspondência com a Loja metropolitana de Edimburgo, erguendo-se então como Grande Loja mãe do rito escocês (23 de fevereiro de 1814), da qual De Attellis foi um dos fundadores. É também um fato que, enquanto isto ocorria, ele ocupava o cargo de Grande Venerável da maçonaria escocesa na Loja “Il tesoronascosto”. E levando em consideração o caráter combativo e o sentido de honra de nosso molisano, bem como o juramento de mútua assistência que os maçons e os carbonários trocavam, é mais do que razoável pensar que eles se empenhassem para proteger os seus “bons primos” carbonários exatamente da maneira por ele descrita. Desertou então da armada bourbônica e se refugiou na França. Em Paris conheceu Barras e por sete meses integrou a secretaria da Deputação lombarda junto ao Diretório, apesar de não compartilhar o projeto de dividir a Lombardia em duas repúblicas independentes e lamentando que “enquanto a Itália inteira suspirava pela reunião da nação em um só corpo”, os lombardos pensassem “em uma nova subdivisão de uma outra parte da Itália”. Retornando para a Itália, se estabeleceu em Bolonha, onde junto com os exilados toscanos L. Micheli e G. Salucci, esteve entre os organizadores de uma complicada conspiração que visava “democratizar” o grão-ducado da Toscana. A conspiração, cujos preparativos perduraram quatro meses, foi inicialmente favorecida pelos agentes da polícia do governo de Lorena, interessados em verificar a efetiva dimensão da propaganda jacobina no grão-ducado e a envolver a vizinha república na acusação de cumplicidade.Em 1 de abril de 1798 De Attellis partiu para a Toscana, Florença. Aos 11 do mesmo mês foi detido. O processo, complexíssimo, provocou grande furor e De Attellis, em 7 de novembro do mesmo ano, foi condenado à pena de morte. A condenação foi comutada para reclusão perpétua e, em fevereiro do ano seguinte, foi conduzido para a penitenciária de PortoferraioAli permaneceu pouco mais de um mês, e quando ao fim de março as tropas francesas ocuparam a Toscana, De Attellis esteve entre os promotores da insurreição do forte. Em abril retornou à Florença, acolhido como heróiEm 12 de junho obteve do governo provisório a nomeação de capitão no batalhão toscano recém constituído. Em seguida, a Toscana foi ocupada pelo exército austro-russo, De Attellis refugiou-se na França e se juntou à legião italiana do Lechi e com esta participou na campanha que se concluiu em Marengo. Mas retomando a antiga paixão pela ideia unitária, publicamente se declarou apoiador da unidade italiana e, por essa razão, foi submetido a um processo que se concluiu depois com absolvição. Após uma parada em Florença, na qual militou no pequeno exército toscano, De Attellis por dois anos esteve em viagem por várias cidades italianas, e à Marselha, onde finalmente se recolheu e obteve a cidadania francesa. Mas a intemperança de caráter e a ingenuidade de sua conduta provocaram-lhe novas desventuras. Em 1803, de fato, ainda que vigiado pela polícia bourbônica, porque era “pérfido nas opiniões e operações revolucionárias”, desloca-se a Nápoles. Rapidamente preso, evitou uma condenação graças à intervenção do embaixador francês, mas os discursos revolucionários e as ideias de independência e unidade italiana, que não soube calarnem mesmo no cárcere napolitano, permitiram à polícia bourbônica denunciá-lo ao governo francês como autor de uma conjuração contra a França. Em Florença, então, é novamente aprisionado, mas a inconsistência das provas recolhidas lhe valeu, no mês de dezembro e após três meses de prisão, ser libertado da prisão, porém com ordem de deixar a Toscana. Se refugiou então em Milão e, no ano seguinte, falida a tentativa de publicar uma Gazeta econômico-política do mundo, motivado por necessidade, se alistou como simples voluntário na guarda do governo.

Retornou a Nápoles em 1806 e, nomeado oficial da gendarmeria do novo governo napolitano, foi enviado a Abruzzo com a missão de combater o banditismo e recolher recrutas para seu corpo; três anos depois foi nomeado capitão no regimento da guarda de honra e com esse corpo, em 5 de dezembro de 1812, escoltou O’chmiano até Vilna Napoleonereduce da Mosca. De retorno a Nápoles ele continuou a integrar o exército como adjunto do Estado Maior da gendarmeria, porém sem fazer parte nas operações de guerra.Entratanto, tornando-se contrário ao regime murattiano, esteve dentre os organizadores da Loja do Rito Escocês fundada em Nápoles em fevereiro de 1814, em oposição à maçonaria murattiana e muito provavelmente foi pela obra desse período que, em maio, foi afastado de Nápoles e enviado para a Calábria junto a Manhès. Retornando os Bourbons, torna-se advogado dos pobres, mas não abandonou a atividade política e teve participação nos eventos de 1820.Mas, quando a direção do movimento passou das mãos dos carbonários àquelas dos murattianos, De Attellis, novamente na oposição, escreveu em defesa da liberdade de imprensa, reorganizou a maçonaria escocesa e redigiu seus estatutos, demitiu-se do Exército e, enfim, atacou Pepe pelo acordo concluído com os revolucionários palermitanos.Por seu comportamento, com a aproximação da guerra, não obteve o direito de retomar o serviço no Exército e, em março do ano sucessivo, parte para a Espanha. Em Barcelona escreveu a história da conspiração de 1820 (L’OttimestrecostituzionaledelleDueSicilieautenticamente documentato da servireallastoriadiquelregno) e três anos após, enquanto a polícia bourbônica o incluía em seu livro negro, viajou para os Estados Unidos, acreditando que a América era “o único solo favorável ao homem pensante, honesto e livre”. Chegou a Nova Iorque em 20 de maio de 1824 e ali conheceu Giuseppe Bonaparte. Em setembro abriu uma escola privada. No ano seguinte retomou as viagens e se refugiou no México. Três anos depois retornou a Nova Iorque, foi professor de literatura italiana e literatura espanhola no Columbia College. Em 1832, retorna ao México, onde permanece por quatro anos. Quando não aprovou os métodos do governo, foi expulso da república e se refugiou em Nova Orleans. Em um opúsculo polêmico, publicado às próprias expensas em 1843,  ele começa dando uma lição sobre história e sobre a cultura italiana. Depois prossegue refutando a acusação lançada contra os italianos, de serem insidiosos e conclui rebatendo a acusação lançada de serem covardes, com a veemência e a sacra indignação de um homem que por sua pátria havia valorosamente combatido e corajosamente sofrido: “Mas...covardes os italianos! Covardes e ignorantes impostores são somente aqueles que pronunciam tão estúpida blasfêmiaEis a relação, senhores. LeiamGiannoneMuratori, Vico, GravinaSismondi etc. Estudem os testemunhos, antigos e modernos, dos feitos sobre-humanos daquela terra clássica... perguntem ao Piemonte, à Lombardia, à Calábria, à Sicília sobre seus feitos antigos e contemporâneos, na mesma Itália, como aliados dos franceses contra os austríacos de 1796 a 1815, e nas montanhas do Tirol, na Espanha e na Polônia, na Rússia, em Danzig etc. Pergunte a Massena, “o Filho da Vitória”, que perdeu 25.000 veteranos na fronteira da Calábria, sem poder avançar nem sequer um passo naquela parte do Reino de Nápoles. Medite sobre o fato de que os franceses não entraram mais na Itália, exceto quando foramchamados e favorecidos pelos italianos. E que na Itália esses sempre encontraram a própria tumba toda vez que, abusando da própria força, tentaram tratar seus próprios companheiros de armas italiano como um povo conquistado. Se informe sobre o heroísmo com o qual milhares de corajosos patriotas, homens e mulheres, subiram ao patíbulo eretos ante seus opressores, desafiando até o último momento os opressores e a morte”.

A corajosa defesa do bom nome da Itália e dos italianos mereceram gratidão e estima. Quando em julho de 1843 se transferiu para Nova Iorque, recebeu carta oficial de boas-vindas e de agradecimento da colônia italiana da cidade, assinada, dentre outros, por Giuseppe Avezzana e Felice Foresti. Três anos antes, mês de janeiro, como reconhecimento da estima pública de seus confrades, foi elevado à posição de Grande Comendador e Grande Mestre da Ordem da Maçonaria Escocesa para os Estados Unidos e inteiro hemisfério ocidental. Em 1845, mais velho, amargurado pela experiência americana, abjurou as ideias republicanas até então sustentadas e se dedicou a escrever sua Autobiografia. Notícias dos eventos italianos despertaram antigas paixões políticas e, deixando os Estados Unidos no início de 1848, desembarcou em Marselha, decidido a prosseguir até Nápoles. Era em Nápoles, com os napolitanos, que ele desejava participar do resgate nacional. Antes de iniciar a viagem, em 28 de março, encaminhou uma demanda ao governo toscano para que lhe concedesse a anulação da condenação ao exílio perpétuo, imposta em 1799. O governo grão-ducal entendeu ser oportuno conceder-lhe apenas um salvo-conduto que lhe permitiria passar pela Toscana sem incorrer na pena cominada (deste fato se beneficiará mais tarde o “Pensiero Italiano” para acusar o grão-duque de escassa liberalidade e para exaltar a figura de Santangelo.

Isso retardou por alguns meses sua partida para a Itália. Durante sua permanência na França, explodem as insurreições Lombardo-Vêneto e tem início a primeira guerra da independência. Santangelo não fica inerte: publica uma tradução da Marselhesa. E quando por falta de fundos Legião Italiana, composta por exilados sob o comando do General Antonini, não podia prosseguir sua viagem aos campos de batalha da Lombardia, concedeu uma soma de mil francos em seu socorro. Crendo nas promessas libertárias de Ferdinando II, que parecia desejar participar ativamente da libertação da Itália, em uma carta dirigida ao ministro Draghi, coloca sua espada, sua pena e seus fundos à disposição do comitê que recolhia as doações na Lombardia. Finalmente, se empenha para organizar, instruir militarmente e equipar uma companhia composta por italianos e estrangeiros que desejavam combater pela independência italiana. O sonho de Santangelo de ver o Reino de Nápoles participar ativamente na redenção nacional rapidamente foi destruído pelos eventos. Em 15 de maio de 1848, a controvérsia entre os liberais napolitanos e Ferdinando II sobre o juramento dos deputados e sobre o uso da guarda civildegenerou em revolta. Os Bourbons a debelaram em sangue e aproveitaram para restaurar o regime absolutista e chamar as tropas enviadas em auxílio a Carlos Alberto. Foi então que Santangelo publicou uma carta a Sua Excelência o barão Carrascosa, tenente-general dos exércitos napolitanos, na qual condenou violentamente a política de Ferdinando II. Depois disto, a exemplo de tantos outros liberais italianos, depositou todas as suas esperanças de resgate nacional em Carlo Alberto e no Piemonte. Em julho de 1848, de Marselha se refugiou em Gênova, onde colaborou com o “Pensamento Italiano “, em Florença, Livorno e finalmente em Roma. Em 27 de abril está em Civitavecchia, de onde escreve a Mazzini uma carta, dizendo que tinha pronto um plano para a defesa de Roma e pedindo-lhe que afiançasse a execução. Chegando em Roma, foi apresentado a Mazzini por GaetanoCiccarelli. Provavelmente expôs seu plano. Porém, da correspondência que se segue, é evidente que não obteve a aprovação. Para ser útil, engole seu orgulho e se dirige a Avezzana, então ministro da guerra da República Romana, mostrando que queria esquecer, pelo amor da pátria, as ofensas recebidas e buscando persuadi-lo a lhe dar os meios de “fazer a guerra ao inimigo comum”. A carta permaneceu sem resposta. Escreveu novamente a Mazzini, pedindo-lhe para dar a possibilidade de contribuir na defesa de Roma ou a permissão de deixar a cidade para retornar aos Estados Unidos. Mazzini não pôde deixar de responder. Disse que os planos para a defesa da cidade não podiam ser adotados e sugeriu a ideia de retornar à Toscana, para derrubar o governo do grão-duque. Obviamente desejava desembaraçar-se dele. Santangelo, ofendido em seu orgulho e não satisfeito, pediu em outra carta para ser enviado para a Marchecomo comissário civil do Governo da República Romana, com plenos poderes. A carta conclui de maneira algo ressentida e orgulhosa: “Mazzini, na situação na qual estamos, tu comigo poderia fazer tudo e bem. E tu, sem mim, fará pouco, ou nada, ou mal”. É evidente que estava exasperado pela forma como havia sido tratado e pela inação à qual foi forçado. Assim não lhe foram concedidos nem o comando do Marche e de nada lhe valeram os colóquios com Saffi e Armellini, ou a carta que endereçou diretamente a Saffi. Amargurado, com o coração partido, este velho patriota que havia participado nos primeiros anseios do Risorgimento italiano e havia combatido a favor da liberdade dos povos de dois continentes, deixou Roma e retorna para Civitavecchia, de onde pretendia embarcar para os Estados Unidos. Em Civitavecchia a morte o colhe em seu leito, em 10 de janeiro de 1850. Assim terminaram os dias deste indomável molisano, que se não morreu com a espada nas mãos, lutando pela independência da pátria, foi porque não lhe foi dada a possibilidade de fazê-lo.

Conclusões:

Jacobino ele foi, e idealmente pertenceu àquela multidão de jacobinos napolitanos que “primeiro deram o grito à Itália adormecida”, incitando-a ao resgate nacional. Não só, mas como tantos outros jacobinos napolitanos também ele levou além de Nápoles, na França, na Ligúria, na Lombardia, na Toscana, na Emília, os ideais comuns de liberdade e nacionalidade italiana, embora em meio aos erros, ilusões e desilusões do período napoleônico. Junto a esses, também ele contemplou a liberação da Península com o auxílio dos franceses; não convicto de uma submissão a uma potência estrangeira, mas para poder por intermédio desta conseguir a independência italiana. E quando a realização deste sonho foi desiludida pela ambição de Napoleão, com esse se alinhou ao contrastar aquele mesmo exército francês com o qual havia combatido, e esteve dentre os primeiros a proclamar “que a Itália está madura para a liberdade; que não há hoje (3 de setembro de 1800) seguramente um italiano, salvo alguma besta, o qual não sinta secreto desprazer de ser constantemente um brinquedo das potência beligerantes; sempre vítima de seus litígios, com os pretextos mais especiosos, sempre sujeito, espoliado, mercantilizado e ridicularizado. Não há italiano que não esteja cansado da guerra, dos massacres, da carestia, dos tormentos de todo gênero e sobretudo da não menos sofrível incerteza sobre o próprio destino. Não há, finalmente, italiano que não nutra o vivo desejo de se tornar parte de uma nação grande, potente, respeitável, porque não há homem que não aspire naturalmente à própria felicidade.” 

“Tomando em consideração os vários aspectos dessa personalidade e da obra desse homem aventureiro, notamos um caráter agressivo, impulsivo, cioso de sua fama de patriota, ansioso por exercitar importantes funções políticas, para as quais nem sempre tinha capacidade suficiente; Attellis foi característica expressão de um elemento liberal e nacionalista, que apesar de não ter nem a capacidade, nem a possibilidade de tomar a iniciativa do movimento unitário e constitucional, e embora não sendo constituído nem por doutrinários de teoria política, nem de figuras que brilhavam em primeiro plano na cena política, ajudou a manter vivo o movimento. Irrequietos, descontentes, impacientes, mais impulsivos porque menos responsáveis daqueles aos quais incumbia o peso de dirigir a opinião e a ação da população oprimida, os homens que a esse elemento liberal e nacionalista pertenciam, constituíram o fermento que fez fermentar a massa, mantendo aquele estado de inquietação propicio às revoltas. Contudo, nas ideias políticas de Attellis podemos tentar traçar uma doutrina ou, ao menos, um núcleo ao redor do qual o padrão se orienta: o constitucionalismo; nas ideias republicanas, que ele professava em 1796, havia já um programa claro, uma aspiração, qual seja a de obter instituições livres, garantidas por lei que as sancionassem como direito, não como um dom que poderia ser revogado. Este ideal tornou-se mais claro, com conhecimento mais seguro nos dez anos da monarquia francesa, parecia que iria se tornar realidade em 1820, mas permanece como programa político em 1848-1849, quando Attellis se aproxima decisivamente da ideia de um Reino da Itália sob a dinastia de Savoia. Como historiador foi um narrador “colorido”, vivaz e frequentemente fiel aos fatos, mas de raro juízo sereno. Os fatos que ele narra são muito próximos a ele e neles teve parte para poder ser sereno, então seus escritos se ressentem das impressões do momento, das paixões, das inimizades e, sobretudo, de sua imaginação muito viva ao fabricar suspeitos, ao ver intrigas e traições.”

É importante, enfim sublinhar que De Attellis, republicano e jacobino desde as primeiras experiências revolucionárias, foi, contudo, sempre um defensor ardente do ideal político unitário. E como tal, “convertido” de forma significativa à causa monárquica dos Savoia, antecipou profeticamente o curso fatal de nossa história nacional, como parece evidente em um fragmento de seu escrito "Um consiglio a Sua Maestà il Re diSardegna", impresso em Gênova em 1º de novembro de 1848:“Se então o corpo político italiano deverá ser um rei, quem será o rei? Ele é indicado pelos fatos e pela lógica. Não há na Itália outra dinastia de origem italiana senão a de Savoia.”

 

Traduzido por 53♀